artigo_75272Diante de um mundo cada vez mais complexo, a administração enfrenta um dilema: gerar resultados com uma estrutura enxuta.

Com elogios de Philip Kotler no topo da capa, o primeiro livro do executivo de marketing Rodrigo Rocha tenta emplacar o que ele chama de Sistema de Estratégia Minimalista (SEM). O conceito traz um conjunto de práticas que podem reduzir os custos dos processos internos das empresas e, ao mesmo tempo, manter ou otimizar os resultados. Seu método é apoiado em quatro Es: Elegância, Eloquência, Eficiência e Êxito.

Nada de novo para uma área onde o kaizen e a gestão enxuta já dão as cartas há algumas décadas. Entretanto, Rocha defende que existe um teor inovador na estratégia proposta. “O Modelo Kaizen é muito focado em melhoria de processos. O sistema de Estratégia Minimalista é uma visão total”, afirma. O modelo é baseado na premissa filosófico-artística do minimalismo.

“A complexidade da vida moderna, o excesso de informação, o barulho e o caos decorrente de tudo isso provocam problemas graves que vão além do simples ‘cansaço mental’ e podem abrir caminho para doenças causadas pelo estresse, afetando inclusive a relação com outras pessoas”, justifica, no livro. Leia abaixo a entrevista concedida com exclusividade ao Administradores.com.

A ideia de uma administração enxuta que você traz no livro não é algo recente; foi preconizado por Eiji Toyoda no século passado e é um conceito com raízes no “kaizen”. Qual a novidade proposta pelo Sistema de Estratégia Minimalista (SEM)?

Acho que a principal novidade é que o SEM vai além da administração. O modelo kaizen é muito focado em melhoria de processos, na eficiência, que é um dos quatro Es. O sistema de Estratégia Minimalista é uma visão total. Criação do produto, comunicação, eficiência e resultado. No livro falo sobre da necessidade das empresas ficarem mais leves e ágeis, mas vou além disso. Os quatro Es são uma filosofia estratégia que antecede a gestão, os quatro Ps do marketing, o resultado comercial. Foi isso que encantou o Philip Kotler no livro. O SEM foi concebido para a realidade atual e futura porque foi desenvolvido a partir da observação dos conceitos e valores que fazem sentido para a geração Y – tanto para os profissionais quanto para os consumidores. Os millennials são uma geração ultraconectada, que cresceu entulhada de informação e isso os fez muito críticos. Eles fazem questão de perceber a verdade em cada ação de marca e não se deixam manipular. Por isso acredito que as empresas tem que trabalhar a Eloquência, que abordo no SEM. Falar menos e fazer mais. Esse conceito está na cultura japonesa como um todo, mas também está na arte, no Bauhaus, na publicidade, na moda, na música e também na história da Apple, uma empresa que me inspirou muito durante o desenvolvimento do SEM.

Drucker afirmava que, numa empresa, os resultados são produzidos por apenas dois fatores: marketing e inovação; o resto seria apenas custo. A metodologia minimalista está alinhada com esse pensamento?

Eu acredito que Drucker está correto. A única coisa que mudou foi o marketing. Antigamente o foco era publicidade, gastar fortunas para colocar a sua marca na mente do consumidor. Hoje a grande inovação é você entregar realmente o que você promete. Isso é ser autêntico. As empresas não estão fazendo o básico e já pensam em inovar. Temos que voltar ao básico, colocar o cliente no centro do negócio e investir cada vez mais na melhoria da experiência do cliente.

Se uma empresa eliminar o máximo possível de lastro, ainda assim ela terá que lidar com rotinas e processos burocráticos, que são necessários mas não geram valor para o cliente. É possível aplicar a ideia de minimalismo mesmo nesses setores? Como isso pode ser feito?

Ser minimalista é um ciclo. Tem um começo um meio e um fim. Depois começa tudo novamente. Pode ter certeza que em pouco tempo você vai rever os seus processos e vai ver que ainda pode melhorar muito. Quando colocamos o cliente no centro do negócio, aprendemos muito. Recebemos muitos inputs. Nada é eterno. O que parece ser bom hoje pode ser ruim em pouco tempo. Reveja sempre os processos.

Como o compliance, que não se relaciona diretamente com o produto final das empresas, se encaixa nesse framework estratégico que você propõe? O tema é tratado, mas não citado, nos tópicos Sustentabilidade e Reputação da marca

Em uma empresa que aplica os 4Es, o compliance existe naturalmente em cada atitude. Departamentos bem administrados, que trabalham o ciclo evolutivo constantemente sempre estarão de acordo com os conceitos de compliance. É algo de vem de dentro no SEM, não precisa ser imposto como um peso extra ou um penduricalho. Em empresas “gordas”, muitas vezes o compliance funciona como um remédio para fígado ou um antiácido: ele serve para consertar abusos ou preveni-los. Uma empresa eficiente e magra não precisa de algo exterior, já vive em uma dieta saudável.

Durante períodos de crise, as empresas cortam o que consideram supérfluo, mas atingem em cheio a inovação, preocupando-se primeiramente em sobreviver, com cortes nos preços, liquidações e redução de pessoal. Porém o que autores como Ikujiro Nonaka e Hirotaka Takeuchi defendem é que a inovação contínua é a principal saída para momentos de crise. Como você enxerga esse panorama? É aplicável à crise atual no Brasil?

O Brasil precisa aplicar o Sistema de Estratégia Minimalista. Deveríamos aproveitar esse momento de crise e repensar nos valores do país, no que é realmente é importante para a sociedade. Vamos fazer uma analogia do Brasil com uma empresa. O Brasil por muito tempo utilizou do seu carisma para atrair investidores. Era um país que falava demais, estava na boca de todo mundo como o país do futuro. Um lindo sonho vendido. O que aconteceu é que a reputação do país desmoronou pois o seu produto não teve consistência. Over promise, under delivery. A base de tudo não foi feita. Não investimos em Educação como deveríamos. O produto desse país são as pessoas. É o básico. Não fazemos o feijão com arroz bem feito e já queremos inovar.

A tradição da administração no Brasil é recente, se comparada com países desenvolvidos – temos pouco mais de 500 empresas de capital aberto na Bovespa, e só um punhado delas negocia ações diariamente. A imensa maioria é de natureza familiar. Isso dificulta a elaboração e implementação de estratégias de negócios, como o SEM?

O modelo de estratégia minimalista funciona para qualquer tipo de empresa. São conceitos básicos que são aplicados no dia a dia. Uma empresa para ser minimalista não precisa ser de capital aberto ou ser uma multinacional. Sinceramente acho que as empresas familiares por muitas vezes são muito mais minimalistas. Elas possuem menos recursos e quem esta à frente do design do produto é o dono. O problema de empresas com capital aberto é que a área mais importante na empresa se torna vendas e muitas vezes quando isso acontece a empresa acaba focando em preço e não na qualidade do produto. A pressão por resultados é muito alta. Muitas empresas começam enxutas e a criação do produto é do dono. As empresas crescem se transformam em uma potência, abrem capital e a area mais importante vira vendas. Pensam em crescimento, resultados e o produto muitas vezes acaba abandonado. A inovação passa a ser uma cópia, não uma criação. Eles colocam a quantidade na frente da qualidade. Quando isso acontece seu produto vira uma commodity e em pouco tempo essa empresa perde espaço no mercado.

Fonte: Administradores